quinta-feira, 21 de maio de 2009

Mar Português - Fernando Pessoa


Tinha de voltar a ser gaja. Grande Fernando Pessoa. A não esquecer:
"Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele e que espelhou o céu.

Senhor, a noite veio e a vontade é vil.
Tanta foi a tormenta e a vontade!
Restam-nos hoje, no silencio hostil,
O mar universal e a saudade.

Mas a chama, que a vida em nós criou,
Se ainda há vida ainda não é finda.
O frio morto cinzas a ocultou:
A mão do vento pode ergue-la ainda.

Dá o sopro, a aragem - ou a desgraca ou ânsia-,
Com que a chama do esforco se remoca,
E outra vez conquistamos a Distância-
Do mar ou outra, mas que seja nossa!

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