terça-feira, 26 de maio de 2009

Velocidades

A vida devia poder ser vivida em três velocidades diferentes. A normal para quando as coisas rolam dentro do habitual, a lenta para quando se vive momentos únicos, irrepetíveis e a rápida para quando se vive momentos atribulados, penosos. Ajudava bastante. Facilitava o caminho, amaciava as pedras da calçada. Porque se caminha melhor quando já se avista o sol por detrás das montanhas. Porque há pegadas que teimam em não desaparecer, porque há sons que já não se podem escutar nem mais um minuto. Porque há limites, porque o ser humano não aguenta tudo, não suporta tudo infinitamente. Acontece que as ditas pedras são para ser carregadas ao ritmo do fado, lentamente, para marcar as costas, para fazer sangrar, para relembrar. Mas mesmo a caminhada mais longa e vagarosa também finda, mesmo as águas dos rios mais revoltos também se acalmam, também desaguam. Seja de uma forma ou de outra, com mais ou menos cor, a coisa há-de passar, de preferência à velocidade de mil cavalos selvagens. E quando passar, vou-me finalmente refrescar naquele oásis que grita o meu nome, molhar o rosto e suspirar.

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