terça-feira, 19 de maio de 2009

Baú


Há pessoas que se dão ao trabalho. Que guardam no baú os pedaços do passado, os testemunhos de contos e amores antigos, porque para elas vale a pena guardar, porque para elas valeu a pena. Para que não se possam olvidar, para que não tenham o descaramento de esquecer. E fazem bem, fazem muito bem. Se nos amaram, se nos lembraram, se nos sentiram é bom não esquecer. Eu pessoalmente não sou feito desse material. Não guardo porque não guardo. Nunca quis ter um baú, não tenho espaço para tal. Não guardei antes e não guardo agora, mas lembro-me do que importa. As palavras imortais sussuradas ao ouvido, essas tenho-as tatuadas na pele. Na minha pele de todos os dias. Recordo-me, com a memória que vive em mim, que não tive mais do que um verdadeiro amor. Que esse amor partiu sem sair do lugar. Esse não esqueço, ainda que se apaguem todas as velas do castelo, ainda que se quebrem todas as janelas e portas, ainda que a tempestade me leve sem pedir licença, ainda que faça neve no deserto do sarah.

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