terça-feira, 19 de maio de 2009

Portugal


Portugal já foi um senhor formal num mundo de regras fixas, do preto e branco, do certo ou errado. Foi-o na idade dos “mil perdões”, da “sua senhoria”, do “vossas excelências”, do “meritíssimo”, num tempo muito devagar, parado. Vestia de fato escuro vincado e gravata cinzenta de seda, de camisa branca e botões da mesma cor, de cinto de pele negro com fivela dourada, de meia escura pelo joelho. Subia a rua a pé, de cartola e bengala e com a pasta preta pela mão, numa figura rígida, de rosto duro, fechado, com brilhantina no cabelo, num cabelo sem movimento. De bigode ou pêra, aquele senhorzinho era ridiculamente cinzento, amorfo, apagado. Não havia pachorra. Não havia como durar. Já foi assim, mas é-o cada vez menos. Hoje é um homem de meia idade, de blazer azul, de calça caqui, camisa azul clara de marca, botão desabotoado, de sapato de vela, com cinto castanho e cabelo solto. Uma espécie de novo beto, de pele tratada, cuidado qb, mas atraente, casual, com um sorriso fácil. Que usa t-shirt ou pólo ao fim de semana, calça de ganga (por vezes também à semana), e, quando o calor o justifica, de sandálias e calção de sarja. Um homem diferente num mundo cosmopolita, acelerado, sem tempo para dar tempo, multi-racial e multi-cultural. Se não é, devia sê-lo, era bom que fosse.

Sem comentários:

Enviar um comentário