domingo, 3 de maio de 2009

Circo


Há vidas que davam um circo, com mil palhaços, com ursos, leões, tigres e cavalos reluzentes a correr e a saltar, com trapezistas usando belos fatos dourados e prateados, com mágicos acompanhados das suas bonitas partners. Daqueles circos com ar condicionado e cadeiras de veludo. Como o do Mónaco. Circo real. E depois há outras vidas que também parecem um circo. Um tipo de circo diferente, com menos glamour, com menos brilho, com menos paixão. Um circo que transpira decadência, em que os seus animais são maltratados e os trapezistas passam fome, vestindo o mesmo fato ano após ano. De facto há muito tipo de vidas e de circos, muito tipo de domadores e palhaços. E também há muito tipo de tendas. Algumas delas já gastas pelo passar dos dias, com as cores outrora alegres agora esbatidas pelo tempo, com rasgões a simbolizar as feridas de muitas tempestades sofridas, muitas tormentas passadas. Tendas fartas de serem montadas vezes sem conta, de andarem de um lado para o outro, em cima de sujos e decrépitos camiões. Tendas que simplesmente deixaram de ter força para se levantarem sozinhas, que anseiam apenas que as deixem repousar num qualquer lugar. Como o palhaço que a morrer por dentro continua a contar piadas, a fazer palhaçadas. Porque vermelho não é apenas o nosso sangue, mas também o nariz do palhaço. Porque há vidas assim, porque há circos assim.

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