terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Fugi, é verdade !


Fugi ! É verdade, fugi ! Porque estava farto, porque não queria mais, porque não aguentava os barulhos e as invasões de privacidade constantes. Porque deixei de me ouvir pensar, porque me sentia sufocado, sem espaço para respirar. Porque cheguei ao meu limite. Porque me acobardei, não tendo, reconhecidamente, esse direito. Porque não soube ser melhor. Porque não me esforçei o suficiente. Por isso fugi. Fugi na direcção mais fácil. Fugi das responsabilidades, da vida real tal como ela é - rotineira e menos romântica que nos filmes. E nessa fuga, perdi-me. É mesmo assim, é um facto. Perdi-me de muita coisa - da mulher que sempre amei, dos meus filhos, da minha família, dos amigos que julgara existirem, de tudo o que me rodeava. Divorciei-me do mundo, do meu mundo como ele era até então. Do qual, diga-se, ainda me sinto divorciado. Agora é como voltar a aprender a andar. Com a desvantagem de que reaprender a andar é mais penoso e difícil do que andar pela primeira vez. Porquanto agora sinto em mim o peso das histórias, das opções erradas, das feridas marcadas na alma. São os nossos grilhões. Seja como for, agora há que reconstruir. Há que reconstruir a partir da pedra basilar - os meus filhos. Por isso, quero estar com eles hoje, amanhã e sempre. Quero demonstrar que os amo, que os amarei sempre, com todas as minhas forças. Que serei a sua guarda pretoriana. Que estarei aqui sempre, que não vou a lado algum, ainda que estejamos em casas separadas. Porque, tal como o dizes, é um direito que me assiste. Desde que eles mo permitam, como felizmente o permitem. E amar é mesmo assim. É não desistir, é lutar por nós, enquanto pai e filhos. E não precisas de agradecer. Não precisas de todo. Não o faço para receber agradecimentos, sabes bem disso. Faço-o por eles e por mim. Porque se não estivesse em paz com eles jamais conseguiria olhar-me ao espelho, reerguer-me. Mas quero também que saibas que compreendo que sintas um pouco de injustiça, de ciúmes, neste meu reencontro com os nossos filhos. De todo o modo, é melhor para eles que seja assim. E eles são o que mais interessa. No que a nós - como se ainda existisse um "nós" - respeita, confesso que também sinto pena. Muita pena. Por ti, por mim, por nós. Pelo que nos amavamos, pela nossa história, pelo nosso amor louco de outrora, pelos caminhos que percorremos juntos, pelo que construimos, pelo que sonhamos, pelos nossos sorrisos de crianças - que já não somos mais. Mas não posso também deixar de ter pena que ainda hoje não tenhas percebido/assumido o teu grau de culpa - diminuto, é certo - em toda esta história. Que não tenhas aprendido com isto tudo, como eu aprendi. Que não te tenhas tornado numa mulher melhor, mais compreensiva, mais flexível, menos a preto e branco. Apesar disso, sempre te considerei uma grande mãe e uma grande mulher, cheia de predicados. E sei que o serás sempre, porque não sabes ser de outra forma. Por fim - the last, but not the least -, queria dizer-te obrigado por tudo aquilo que te devia ter agradecido e que não o fiz.

9 comentários:

  1. Uma mulher que fala e vive daquela maneira não é concerteza "não compreensiva".que imagem tão bonita os seus filhos sossegados, e quando saltam, gritam, brincam...fazem barulho e invadem a sua privacidade

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  2. Não percebi o comentario do anonimo V

    Mas o meu é: Parabens! pelo menos por tentares e reconheceres que erraste! :D

    Beijinhos nossos

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  3. Obrigado, Nós. Por apareceres, por continuares aí. Espero que esteja tudo bem com vocês. Beijinhos.

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  4. Também não percebi o comentário não identificado ... reconhecer um erro é um acto de maturidade, e de amor pelos teus petizes
    Beijos

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  5. Como eu gostaria que um dia o meu ainda marido reconhecesse onde e como errou!
    Beijinho

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  6. Perdoa-me a "invasão"...Vim aqui parar, e não pude deixar de comentar...Gostei muito do teu post, acho que quando se assumem os erros, e se descobre que ainda há amor, pode voltar a haver um nós...E voltar a unir uma familia tem um sabor ainda mais delicioso do que quando ela nasce...Digo-te por experiência própria:)
    Mais uma vez peço desculpa pela invasão.
    Felicidades!

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  7. A questão não é adnitir os erros ou não, mas sim o tempo que se demora a faze-lo, o o dano provocado até la. O gesto é bonito, e enfeita um pouco a tua actual vida, mas o passado não volta.

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  8. è bem mais facil fugir e quando eles estiverem criados e independentes voltar a querer ter filhos. assim não custa

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  9. é bem mais facil deixar o trabalho mais arduo para a mae e quando eles estiverem criados e independestes voltar para eles

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