De mãos no ar, todos de mãos no ar, a saltar com toda a força do nosso corpo. Com toda a força dos nossos antepassados. Todos juntos, ao mesmo tempo, na mesma direcção. Despidos de preconceitos, de vergonha, de mantos de tecido. Nus, completamente nus ao sabor da noite, ao sabor da lua que nos invade, com o vento quente entre os lábios, com os lábios cheios de carne. E vamos olhar lá longe, para o mais longe que a vista alcança, vamos tocar o infinito com a ponta dos nossos dedos. Vamos jorrar o sangue que corre em nós, vamos entrelaçar os nossos corpos suados, vamos gritar bem alto, com os pulmões a sair pela boca, para que ecoe no outro lado da terra, no covil do urso. Vamos voar com as estrelas, correr com o vento, soltar a besta que habita em nós. Todos juntos, unidos, como um só. Como se não houvesse amanhã, como se a vida terminasse agora, neste exacto momento. Por isso sintam a dor, sintam o prazer, o corpo a gemer, a esticar, a desfazer-se, a partir-se em mil pedaços. Sintam as gotas de suor a inundar o chão que teima em desaparecer. E continuem a gritar, até ao último sopro. Como um só.
O meu irmão Nikita não voltará a Kharkiv.
Há 3 semanas
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